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dedicar um texto

“não devemos ser eloquentes,

Não somos profetas, nem somos precursores,

Não nos agrada o paraíso, não tememos o inferno”.

Ossip Mandelstam

A pessoa como autor não tem nada a dizer. Da sua vida fica apenas que é tarde, muito tarde. Não tem a ver com o tempo, não se trata de velhice nem de decisões sem remédio. É uma atitude contínua que vai mudando, igual todos os dias como a pele com que se nasce. Ter a garganta aflita para falar e não saber bem de quê.

Também eu quero ver coisas minhas por aí, mais verdadeiras do que as outras porque sou jovem, muito novo, e tudo o que é novidade é um consolo para o verdadeiro. Se me é concedido este espaço, o proveito será somente o de tentar repor alguma verdade nas ideias, vesti-las de um rosto humano, porque é essa a sua única verdade: que fazem parte de alguém, que deixaram uma voz aveludada ou implacável. Peço, assim, toda a habilidade de que me lembro para não perder de vista o único preceito de que me valho: não devo ser eloquente. Tal decisão pessoal inscreve-me num grupo restrito de gente que, em princípio, diz não temer o inferno nem nutrir especial simpatia pelo paraíso. Não estando inteiramente seguro quanto a estas condições, colocaria tudo sob escrutínio da tua pergunta: leio poemas sobre mulheres, textos lindíssimos descrevendo companheiras; sei bem o que é tudo isso, mas não me escreves também tu, e porquê? Porque «é a linguagem que se articula em mim, e não eu que me articulo na linguagem» (Boris Groys).

A linguagem é infinita na medida em que desce ao profano, ao meu corpo, e vem à luz, — a esta luz — abraçada à sua vítima estrangulada, cuja casualidade pilha, ainda que só até certo ponto: «não se trata de pintar algo que seja completamente distinto de um homem, ou casa, ou montanha, mas de pintar um homem que se pareça o menos possível com um homem» (Ortega y Gasset). Trata-se de aliviar temporariamente o banho privado, prescindir de certa cintilação.

“On the New” é um livro que Boris Groys dedica ao estudo do caráter inovador de uma obra de arte. O último capítulo deste trabalho procura dar resposta às seguintes questões: Quem inova? Quem inicia uma troca inovadora? A resposta tradicional encaminha-nos para a figura do autor, ainda que já tenha sido declarada a morte do homem enquanto autor de pensamento (Foucault) ou a supremacia da linguagem perante o indivíduo (Heidegger). A corrida pela verdade na metafísica clássica observa os intentos teóricos como uma manifestação finita de uma pretensa razão humana que permanece infinita. Em termos esquemáticos, Groys descreve que se substituiu a «valorização sem desvalorização» da metafísica clássica pela «desvalorização sem valorização» na teoria crítica.

O autor seria, agora, um mero instante de uma gargalhada infinita, empenhado em desconstruir esta pretensão à verdade e tratando todos os temas com ironia, sem nunca se declarar capaz de qualquer aproximação a um possível âmago transcendente do mundo. A descrição de um rosto, posto isto, desvincula-se da razão, do espírito e do valor do infinito, e investe no corpo, no desejo e no texto como marcas de um inconsciente que, muito frequentemente, se assemelha, tal como nos primórdios, a uma espécie de inspiração divina, negando a responsabilidade individual do pensamento próprio. Uma das marcas desta proximidade entre o texto primordial e o contemporâneo é o resultado da substituição do exemplo pelo fragmento. No primeiro caso, partindo de um determinado acontecimento ou corpo, negligencia-se o caráter específico de cada situação. Por outro lado, o fragmento alumia-se sob a forma de “texto aberto” ou aforismo, negando-se, assim, a mortalidade de cada texto.

A filosofia clássica nunca foi capaz de tratar a natureza pessoal e puramente humana de todo o discurso teórico. A centralidade do corpo, do desejo e da textualidade não garante, porém, maior proximidade a esta questão e reclamar um espaço próprio no trabalho teórico não pode acrescentar nenhum tipo de autoridade ao autor.

Com a súplica de Mandelstam, descreve-se, de facto, uma curva que foge de uma tradição cultural altiva e muito restrita. A voz molda-se aos becos das ruas, aos cheiros dos sítios que habitamos. Não estamos mais elevados porque já não há verdade profética. A eloquência é substituída pela ironia boa-mãe do sofrimento mundano. Mais; talvez se procure revestir o discurso de uma originalidade garantida pela inaudita volta para a vida dos homens e, desta forma, conquistar uma nova eloquência, até aí impraticada. Pedir emprestada a voz, torná-la ainda mais casual no exagero da sua sinceridade, bater no chão, na lama, e recolher com afinco cada grão da poeira erguida, guardar com cuidado na mão em concha e polvilhar levemente o ambiente da sala de leituras, onde será descrita a vida que todos conhecemos.

A rejeição da eloquência é, também, uma estratégia fria do discurso, ainda que não seja intenção consciente. Os trabalhos que rompem com os modelos tradicionais, num primeiro momento, procuram relacionar-se com uma realidade extra-cultural: uma ideia idêntica à fome presente em cultura (Artaud). «Os critérios exteriores da forma, retórica e adaptação normativa à tradição cultural» (Groys) são substituídos por critérios de verdade e significado, “textos abertos” da verdade extra-cultural escondida atrás das convenções. Inaugura-se o tom profético da minha voz, da tua voz e da voz de todos nós, do cheiro da minha rua, da cor da minha almofada e da morte de uma mãe apenas assistida por um filho mais desamparado do que a transição incerta. Nesta vontade de aproximação ao mundo dos homens, incorre-se num compromisso redobrado que converte a pluralidade da vida na singularidade culturalmente reconhecível da atenção dada àquilo que é de todos.

Sendo cada vez mais real, o depoimento é também cada vez mais louvado e distinto. É a insistência na sinceridade do texto que o afasta da musa a quem jurou fidelidade na descrição do rosto. Recorrendo a Groys, «para que um trabalho que trate a realidade possa ser reconhecido, é necessário que dela se afaste, reconvertendo-se em nova referência à tradição cultural».

O valor de um escritor não lhe é reconhecido, assim sendo, pela fidelidade impossível de comprovar que dedica à descrição do rosto da sua companheira. Ou talvez seja precisamente por isso.

***

Falhei claramente na minha tentativa da demonstração fiel da vida. Deixei-te como estás, que é igualmente como estou, em repouso a dois, parados em frente um do outro e sem nenhuma declaração fora do meu peito. Fui, claramente, muito pouco eloquente. Mas não terá sido por isso que melhor me aproximei de ti.

Fazê-lo seria, de resto, como aqui li, apenas uma despedida mais próxima. E não é despedir- me de ti o que eu queria para a minha vida. Não te vejo minha musa inquebrável, esfera imbatível. Não quero tecer os fios do teu cabelo como fios de ouro. Não quero, muito menos, tecer os teus cabelos como fios de cabelo. Quero apenas o teu cabelo, e calo a boca logo a seguir, não posso admitir que o tenha dito. Só queria a vida sem a declarar, da forma mais sincera que pode a linguagem quando a ela irremediavelmente recorremos.

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