Que partido?

Quando eu estava no ensino médio, eu tinha dois professores esquerdistas — o brinco de estrela vermelha escrito “PT” que a professora de literatura usava além da faixa vermelha deixava isso muito claro –, contudo não me recordo de momento algum no qual eles impuseram ou sequer exprimiram sua ideologia para a turma, geralmente o professor de história dava alguns comentários levemente ácidos de forma a fazer com que pensássemos um pouco mais, mas nada que venha a ser considerado doutrinação — até porque nem me lembro de ouvir falar sobre Marx na escola, talvez eu tenha faltado no dia.

Tinha na mesma escola outra professora, com formação em Geografia e Direito, ela tinha uma mania pouco convencional, inconstitucional e, além do mais, imoral, que era coagir seus alunos a rezar o Pai Nosso no início de todas as aulas. “Todos de pé, vamos fazer a oração”. O aluno que não levantasse, ela ficava encarando e, de certa forma, perseguia no limite que um professor de ensino médio “pode” perseguir um aluno. Lembro que na minha turma, e aqui tenho alguns colegas de prova, eu fui o primeiro a me expressar contra o rito não apenas pelo fato de não ser cristão mas pelo fato de vivermos em um Estado dito laico, ou seja, um Estado que não se mistura com religião e que, ao menos deveria assim ser, nenhuma religião se sobrepõe, logo outros estudantes se puseram contra o rito e nem todos ficavam de pé para a oração. Soube ainda este ano enquanto eu estava estagiando que essa mesma professora ainda continua a colocar o seu rito em sala de aula, nunca lhe foi negada essa prática, nunca tentaram calá-la, pois ela está falando em nome de Deus — um deus cristão, religião que se sobrepõe dentro do nosso país com direito até à bancada no congresso.

Essa professora da qual vos falo tinha das atitudes mais incoerentes que uma professora poderia ter, dentre elas não apenas esse rito de oração mas também o fato de querer trocar voto dos alunos em determinada candidata alegando que esta candidata pagaria por toda a formatura caso todos os fizessem, ou seja, compra de votos, claro crime eleitoral. Essa professora também tinha a mania de falar com desdém daqueles professores de esquerda, para ela a escola deveria ser sem partido.

É engraçado pensar que o nome do projeto Escola sem Partido está no singular enquanto nosso país é pluripartidarista, sendo assim deveria o nome do projeto estar no plural, Escola sem Partidos. Enquanto essa professora desdenhava de professores de ideologia diversa da dela, ela, advogada, conhecedora do direito, cometia ilícitos em suas aulas, forçava a sua ideologia não apenas política, enquanto influenciava alunos a votar em determinada candidata, mas também religiosa, enquanto impunha a todos a realização de oração de uma determinada religião.

Essa professora exemplifica bem a aberração que é o projeto defendido com unhas e dentes pelo futuro presidente e a turma de seu partido e a hipocrisia desse tipo de gente. Eles não querem que alunos sejam influenciados por professores de esquerda, mas querem que toda a nação assista-os fazendo o Pai Nosso na frente das câmeras; se dizem contra a imposição de uma ideologia (comunista), mas são a favor da imposição da bíblia como base para a sua forma de governo — o que é comum para uma ideologia conservadora.

Nunca houve imposição de ideologia comunista na minha escola ou na escola de qualquer pessoa que eu conheça, diferente da imposição de certa religião que muito vi e vejo por aí. Se tivesse existido nesses 16 anos de PT a imposição de uma ideologia de esquerda, o PT falhou até nisso, pois, se pararmos para pensar, quer dizer que todos os que se formaram nesses últimos 16 anos foram “doutrinados” e essa doutrinação tendeu à esquerda. Se houve essa tendência, por que então a extrema direita ganhou? A resposta está nas estatísticas: 7 a cada 10 alunos do ensino médio não sabem realizar operações básicas de matemática e, atenção ao ponto importante, não conseguem realizar uma simples interpretação de texto, ou seja, são analfabetos funcionais. Se não se sabe interpretar ou raciocinar, aquilo o que lhe é imposto é aceitável, por isso a maior arma que um governo tem contra seus cidadãos num Estado assistencialista tal qual é o Brasil é o enfraquecimento da Educação, em analogia simples: se não dá comida, o homem não pode ficar forte para lutar contra seus inimigos.

É fácil e favorável para um governo desviar a atenção do que realmente importa colocando um inimigo inexistente para lutarem contra, inimigo este que os pais dariam conta da sua inexistência se visitassem as escolas de seus filhos e que o jovem que chegou e saiu do ensino médio sabe bem da irrealidade. Não é à toa que se você questionar para um “anti-comunistas” o que é comunismo, ele sequer saberá definir, dizer quem é seu idealizador ou qual a diferença entre comunismo e socialismo, ele saberá apenas que isso é algo ruim, mesmo nem sabendo o porquê de ser ruim, problema da educação pobre que temos.

É fácil manipular aquele que não questiona e é fácil não questionar quando se teve uma vida de imposições que são aceitas por não terem lhe mostrado outras formas de ver as coisas.

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